Organizações: Prisões psíquicas
- Lica Marques
- Feb 29, 2020
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As pessoas possuem um papel de grande importância na vida organizacional. Desde as pesquisas de Elton Mayo, em 1927, procedidas de inúmeras outras pesquisas realizadas por psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, tais como Jung, Donald Winnicott entre outros, apresentou-se inúmeras abordagens que demonstram quanto o psicológico das pessoas é influenciado e influencia o meio organizacional.
Na década de 20, Taylor utilizava uma abordagem na qual o funcionário era visto apenas como uma peça (ferramenta) dentro da organização, tendo ele apenas que trabalhar e produzir, sem influência alguma de seus problemas pessoais, já Elton Mayo (1933) contesta este modelo e defende uma proposta de administração organizacional voltada tanto para os objetivos das organizações, quanto os das pessoas. Chiavenato explica que, conforme Mayo, “a pessoa humana é motivada essencialmente pela necessidade de estar junto, de ser reconhecida, de receber adequada comunicação”, diferentemente de Taylor, para quem “a motivação básica do empregado era meramente salarial” (1993, p.150).
A partir da pesquisa feita por Elton Mayo, inúmeros estudos retratam a relação existente entre o fator psicológico dos funcionários com as organizações para a qual trabalham. Assunto este que pode ser percebido através de diferentes enfoques. Desde a forma de comando da gestão da organização, até em um serviço de call center. Segundo Freud, a forma como um Presente de Empresa atua representa a sua personalidade que, segundo ele “os traços da vida adulta emergem das experiências infantis e, em particular, da maneira pela qual a criança consegue conciliar as exigências da sua sexualidade e das forças externas de controle e restrição”. Freud destaca o caso da Administração de Taylor, que representa uma ilustração clássica do tipo de personalidade anal-compulsiva, que é a etapa de vida de uma criança entre 18 meses até 3 anos e meio de idade, que corresponde a idade de aprendizagem e controle de esfíncteres. Neste período a criança aprende orientações básicas para a vida, tais como a possessão e desprendimento das coisas, é neste período também, que a criança aprende a controlar a sua defecação. Analisando o perfil de Taylor, Morgan (1996) conclui que é evidente que toda a sua teoria da Administração Científica foi produto de lutas interiores de uma personalidade perturbada e neurótica.
O psicanalista Donald Winnicott, segundo Morgan (1996) desenvolveu a teoria kleiniana das relações objetais de modo a enfatizar o papel-chave de tais “objetos intermediários” no desenvolvimento humano. Nota-se isso nas organizações, quando as pessoas são apegadas a determinados objetos, tais como seu material de trabalho, ou até mesmo a nomenclatura de seu cargo. A pessoa torna-se individualista, refletindo também na forma de agir em determinados momentos, como, por exemplo, quando um funcionário barra informações, dificultando o andamento da organização.
Percebe-se que o inverso também ocorre, ou seja, a forma como vivemos em nosso ambiente de trabalho influencia, em nossa vida pessoal. De acordo com Dejours, fala-se atualmente na psicopatologia do trabalho, apresentando diversas formas de sermos influenciados emocionalmente pela vida organizacional. Ao iniciarmos nossa vida profissional, mais especificamente, ao sermos contratados para atuar em uma empresa, primeiramente sofremos um choque cultural, temos que nos moldar em relação ao tipo de rotina que a organização possui, podendo ser ela do tipo burocrática, autocrática etc...temos que nos adaptar a este novo modo de agir e pensar, que pode não estar de acordo com os nossas formas de agir e pensar. Após as adaptações, percebe-se que a cultura da organização influencia no fator emocional de seus funcionários. A vida organizacional, dependendo de como se sucede, pode atribuir fatores positivos e negativos aos seus colaboradores.
Fatores positivos estão agregados no momento em que aprendemos, crescemos intelectualmente e profissionalmente, nos sentimos motivados, somos reconhecidos e vamos para casa, após uma rotina de trabalho, satisfeitos e contentes. As conseqüências negativas podem ser as mais variadas, tais como pressões psicológicas, que acarretam depressões e estresse, desmotivação, dificuldade de expressão e inúmeros outros.
Trabalhar, constantemente, o clima organizacional, é de fundamental importância, a fim de identificar a possibilidade de ocorrência de tais situações que podem acarretar em conseqüências negativas para o desenvolvimento organizacional, visto que o público interno é a “corrente sanguínea” da organização. As organizações, vistas como prisões psíquicas, devem preocupar-se com esse assunto e agir de forma pró-ativa para tentar minimizar os fatores negativos, através de constante diálogo entre seus colaboradores e maximizar os pontos positivos desse processo.
Referências:
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: abordagens prescritivas e normativas da administração.São Paulo: McGraw-Hill, 1993.
MORGAN, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996.

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